sábado, 26 de maio de 2012

“A vingança” parte II

domingo, 24 de outubro de 2010


...e num momento de estúpida lucidez... puxei o gatilho!

Puxei o gatilho e fiquei ali parado ouvindo o estampido do tiro ecoar pela manhã que parecia me recriminar pela minha atitude. Enquanto a fumaça da pólvora se dissipava e misturava-se com a neblina eu observava trêmulo, o corpo do homem caído ao chão. Minhas mãos sentiam o calor gerado pelo disparo, e aos poucos o cano da arma ia esfriando, enquanto eu tomava consciência do meu ato.

O Sol agora brilhava com mais intensidade, como se as ondas de calor que ele projetasse em minha direção fossem uma forma de me dizer se eu realmente estava satisfeito com meu trabalho. Uma lágrima correu pelo meu rosto, e a certeza de que aquele crápula que ficou estendido ao chão nunca mais cometeria adultério, me perseguiu pela mata enquanto eu corria em direção ao meu carro.

O sangue que escorrera de seu nariz já estava seco agora. Aos poucos ele recobrou a consciência e levantou-se meio atordoado, sem entender muito bem o que estava acontecendo. Fez uma rápida verificação para ver se encontrava o buraco causado pelo projétil... mas não encontrou nada. Foi então que olhou para uma árvore à sua frente e viu a marca da bala. 

Ele não atirou em mim! Ele não atirou em mim! Meu Deus, mesmo vendo o ódio estampado em seu rosto, e tendo a chance de acabar com a minha vida sem que ninguém soubesse, ele não atirou em mim! Por quê?

Eu chego em casa e desabo em minha cama. Uma história passa por minha cabeça enquanto eu tento pegar no sono. Fiz bem meu trabalho. Com certeza ele aprendeu a lição. Isto ficou claro ao ver como ele mijou nas calças enquanto eu apontava o revólver bem no meio de seus olhos. O susto foi tanto que ele até desmaiou... eu ri neste momento.

Ninguém tem o direito de tirar uma vida, isso eu aprendi como o meu mestre. O amor incondicional, a longanimidade, a mansidão, a temperança do Galileu nunca saíram de meu coração. Embora eu não acredite em muitas das estórias que me contaram sobre aquele “profeta”, eu jamais poderia negar que tudo que ele fez e a forma como lidou com a vida...e com a própria morte, são um exemplo para as gerações que virão.

Tenho certeza que aquele homem vai pensar mil vezes agora, antes de dar um passo errado. O bilhete que deixei em seu bolso contém as ordens para o próximo passo da minha vingança. Ele terá que cumprir tudo que eu deixei escrito. A primeira coisa a fazer é abdicar do cargo de pastor depois de uma confissão pública de seus atos. Em seguida terá que pedir perdão aos membros de sua igreja por tê-los enganado por tanto tempo. 

Eu deixo bem claro que estarei vigiando-o, e se ele não completar sua missão... não terei tanta piedade da próxima vez que nos encontrarmos pela madrugada. Finalmente o sono que há muito tempo havia rompido relações comigo, chegou... vou descansar um pouco agora,deitar minha cabeça no travesseiro, sem remorso, sem culpa, sem arrependimento afinal de contas:

A noite foi de matar!

Edson Moura

Nenhum comentário:

Postar um comentário