domingo, 27 de maio de 2012

“Tornei-me um inútil”

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Ninguém gosta de ser chamado de inútil e ninguém quer se tornar obsoleto um dia, mas pensando bem, quando nos tornamos desnecessários na vida de outras pessoas, estamos dando indícios de que essas pessoas já podem caminhar com as próprias pernas. Na sociedade moderna constatamos esta “deformação” em muitos lares.

Recordo-me de quando meus filhos eram totalmente dependentes de mim. Quantas vezes dei mamadeira pra minha primogênita Julia? Quantas vezes troquei a frauda da minha Jéssica? Como me emocionava quando o Jonas me pedia para carregá-lo no colo, pois estava cansado e precisava ser levado? Como era bom ouvir o Cauã pedir para eu segurar sua mãozinha ao atravessar uma rua? Eles eram totalmente dependentes, indefesos, ingênuos, despreparados para enfrentar a árdua empreitada de viver.

Quero que eles cresçam. Desejo que eles aprendam a “se virar” sozinhos, espero quem um dia consigam largar minhas mãos e caminhar rumo à suas liberdades, sem medos, sem melindres, totalmente tranqüilos e abnegados, como se deve ser o homem.

A maioria dos pais hoje em dia são super-protetores. Tratam sues bebezinhos de 15 anos como se ainda fossem crianças de colo. Não vêem que estão lhes fazendo mal e que isso poderá acarretar uma série de problemas no futuro. Dizem que estão apenas amando seus filhos e não querem que nada ruim lhes aconteça, mas o que não percebem é que “inconscientemente” estão limitando seus filhos para a vida. Medo de que seus filhos os abandonem ao atingir a maioridade, pavor de que um dia sua prole lhes vire as costas e partam. Mas acredito que acontecerá exatamente o contrário, ou seja, filhos que não estão preparados para cuidar de si mesmos, estes sim, não poderão cuidar de seus pais.

Penso diferente hoje. Confesso que já me enganei dizendo que protegia meus filhos por amor a eles, mas na verdade protegia-os por amor a mim, por medo de ser abandonado, medo de ser esquecido um dia. Hoje estou 32 anos e quatro filhos que ainda dependem parcialmente de mim. Venho me esforçando para torná-los auto-suficientes. Preparando-os psicologicamente para uma possível ausência minha, mostrando aos poucos que não estarei para sempre ao lado deles. Sei que parece insensibilidade minha, mas não é. Amo tanto meus filhos, mas tanto, que preciso fazê-los entender que serei inútil para eles no futuro.

Quero que um dia eles possam dizer:

“Pai, eu não preciso mais do senhor! Pode soltar minha mão.” Quero tornar-me um total inútil para meus filhos, mas nunca quero deixar de ser importante para eles. Quero sempre fazer parte de suas vidas, mas não quero ser um porto seguro para nenhum deles. Quero ser lembrado por eles, como um pai que precisa de ajuda e não como um pronto-socorro financeiro. Não quero que se tornem arrogantes e pretensiosos, herdeiros abastados que não souberam o que é privação. Quero que vençam na vida...mas os ensinarei a perder também.

Filhos! Chegará um dia em que não estarei perto...e tenho certeza que saberão o que fazer na hora do desespero.

Mãe! Obrigado por largar minha mão na hora certa. Tornei-me um homem e não esqueci de ser menino quando necessário. A vida tornou-me robusto no corpo, mas mantive meu coração franzino e delicado, como deve ser. Espero estar sendo útil, ensinando que precisaremos ser inúteis um dia.

Edson Moura

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