terça-feira, 22 de maio de 2012

Medo de sentir saudades



Onde está aquele menino que escondia-se embaixo dos cobertores e agarrava-se à sua mãe, temendo que o bicho papão o viesse buscar?

Onde está você pequeno “Edinho”? Que tantas vezes fez xixi na cama só por medo de ir ao banheiro na escuridão da noite.

Cadê aquela criança inocente que dizia que nunca ia se casar, só para ficar pra sempre juntinho de sua progenitora? Cadê?!!

Cresceu o garoto, e aos poucos conheceu o mundo. Mas não perdeu a ternura e ainda continuava imaginando o perigo que rondava do lado de fora da casa.

Já é um jovem, mas ainda guarda resquícios da sua tenra infância. Pensa que é homem, e talvez até seja. Não... não é!


Parou de fazer malvadezas com os bichanos. Já não atira mais pedras no vidro do ônibus e se esconde dentro da escola. Já não vai mais ao super-mercado roubar bonequinhos dos “comandos em ação”.

Andar de bicicleta? Nem pensar. Nadar no córrego canalizado, e com água suja da chuva? Nananinanão! Invadir a casa dos japoneses para arrancar o pacote de café que ficava dependurado como simpatia? Nunca mais. Quanto tempo faz?!

Caramba!! Ele até cabulava aula e subia por um cano de PVC até o telhado da escola, só pra comer jambo e mijar na caixa d’agua. Rsrsr Espero que nenhum dos meus amigos de escola leia este texto...beberam meu mijo!

Onde está o garoto que largou a escola para trabalhar em dois empregos, na esperança de juntar dinheiro e sair da favela? Pra onde foi o sonhador que dizia que ia ser escritor quando crescesse? Ele cresceu.

Alguém aí viu o rapaz que adorava pregar na igreja? O diácono que passava noites em claro estudando a Bíblia? O cooperador que ensinava que é preciso amar uns aos outros, não importando o tamanho da ofensa, onde ele está?

Amadureceu o rapaz, tornou-se um homem, agora é pra valer. Já não alimenta mais sonhos. Não tem mais medo de escuro, nem sente mais o prazer infantil de esconder-se embaixo das cobertas. Sua mãe já está velha, e a distancia impede que ele se aconchegue em seus braços. Mentira! Não é a distancia não! É a idade. A idade que chegou como uma onda e varreu todo a proximidade que tinha com a Dona Iris.

Com a maturidade veio a coragem, e trouxe consigo a insensibilidade. Já foi o tempo em que sentia medo. Hoje encara a tudo e a todos sem receio. Até ousou desafiar Deus. Pobre Deus, está sofrendo nas mãos do Edinho.

Ser criança é tão bom! É tão bom sentir medo. E num mundo onde o medo é quem dita as diretrizes para uma vida plena, o maior medo que se pode sentir é justamente o não sentir medo de nada.

Edson Moura


terça-feira, 23 de agosto de 2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário