quarta-feira, 23 de maio de 2012

“E o temporal não se acalmou”

quinta-feira, 8 de abril de 2010


Eles estavam apavorados, a chuva já durava uma semana, o medo refletido em seus olhos era apenas uma demonstração de que até os mais fortes se apavoram. O mestre estava com eles, mas ainda assim temiam. De repente um estrondo..um barulho bem conhecidos desses doze homens que moravam na encosta.

Os gritos começaram...e a correria se alastrou. Um deles, o mais “incrédulo”,olhou pela janela, e não pode acreditar no que seus olhos lhe mostrava: Toneladas de terra descendo o morro...casas sendo soterradas...corpos de crianças e mulheres revolvendo no meio daquele lamaçal..animais..carros..móveis, tudo era carregado e em poucos segundos já não se podia mais vê-los.

Mestre! Ele gritou. Faça alguma coisa! Vai deixar-nos perecer...não vê que vamos morrer nessa avalanche? Um deles, o mais impulsivo, saiu correndo, foi tentar resgatar um garotinho que acabara de ser tragado pela terra, mas nem houve tempo, uma árvore enorme o acertou e ele ficou inconsciente...uma casa literalmente inteira caiu por cima do homem..não houve tempo pra nada...o Pedro morreu.

O mestre olhava tudo aquilo atônito e se perguntava: “O que será que eles querem que eu faça?..será quer eles não sabem que eu sou apenas um homem?...e que eles devem conformar-se com as agruras da vida?” Sabíamos que este local era perigoso para se construir...sabíamos que a qualquer momento isso aconteceria.

Não posso acalmar o deslizamento! Ele gritou. Nada posso fazer! Espero que vocês entendam que a vida é assim mesmo, não pode ser mudada com passes de mágica, não se pode acreditar que só pelo fato de crerem em mim...não lhes acontecerá nenhum mal.

Enquanto ele ainda falava, a segunda onda de terra soterrou a casa onde os onze homens ainda estavam...e o silêncio tomou conta do local. Uma escuridão imensa se abateu sobre eles, a pressão em seus peitos era enorme...onde está o oxigênio...não posso respirar...pensava João.

Matheus sentia um ardor mortal em seus pulmões que lutavam desesperadamente por um último fôlego...mas foi em vão...já era tarde. Todos os doze homens morreram ali...assim como outras centenas de pessoas. Nada pode ser feito, a natureza é implacável quando não a respeitamos.

“A todos aqueles que perderam amigos e parentes no Rio de Janeiro, as minhas mais sinceras condolências”

“Mães! As lágrimas irão cessar, embora as lembranças de seu menino correndo pelos becos da favela jamais sairão de sua mente”.

“Maridos e esposas! Sua vida agora terá que prosseguir! Mesmo sendo assaltados constantemente pelos “flashs” dos momentos bons e maus que passaram juntos”.

“Filhos! Cresçam! E no momento oportuno, saiam das áreas de risco. Suas mães e pais falecidos no desastre gostariam de velos longe do perigo”.

Assim é a vida!


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