sexta-feira, 20 de abril de 2012

Alucinações: Ontem, Hoje e Sempre



Iniciando um novo estudo sobre a evolução das crenças e das religiões, gostaria de compartilhar alguns relatos colhido em muitas regiões do mundo, sobretudo Europa. Nossas crenças em nada são absolutamente nossas e muitas vezes nem mesmo sabemos de sua origem. Acreditamos em tantas bobagens, em tantas mentiras sem fonte de verificação, ou mesmo sem vontade de nos aprofundarmos no assunto, que, em minha opinião, o que não acabou ainda, é preciso que acabe o quanto antes, para que o homem possa, de uma vez por todas, libertar-se das garras do “demônio” que habita em sua psique.

Os deuses nos guardam e guiam nossos destinos, é o que ensinam muitas culturas humanas. Existem também outras entidades, mais malévolas, responsáveis pela existência do mal. As duas classes de seres, tanto se a consideramos naturais ou sobrenaturais, reais ou imaginários, servem às necessidades humanas. Até no caso de serem “totalmente imaginários”, muitos se sentem melhor acreditando neles. Assim, em uma época em que as religiões tradicionais se viram submetidas ao fogo iluminador da ciência, não seria estranho vestir uma nova roupagem nos deuses e demônios de antigamente extraterrestres hoje.

A crença nos demônios estava muito estendida no mundo antigo. Os consideravam seres mais naturais que sobrenaturais. Hesíodo os menciona casualmente. Sócrates descrevia sua inspiração filosófica como a obra de um demônio pessoal e benigno. Sua professora, Diotima da Mantineia, disse-lhe que “tudo o que é gênio (demônio) está entre o divino e o mortal... A divindade não fica em contato com o homem, mas sim é através deste gênero de seres por onde tem lugar todo comércio e todo diálogo entre os deuses e os homens, tanto durante a vigília como durante o sonho”.

Platão, o estudante mais célebre do Sócrates, atribuía um grande papel aos demônios: “Nenhuma natureza humana investida com o poder supremo é capaz de ordenar os assuntos humanos, e não transbordar de insolência e engano”.

Não nomeamos aos bois senhores dos bois, nem às cabras das cabras, mas sim nós mesmos somos uma raça superior e governamos sobre eles. Do mesmo modo Deus, em seu amor pela humanidade, pôs acima de nós os demônios, que são uma raça superior, e eles, com grande facilidade e prazer (para eles), nos dão paz, reverência,  ordem e justiça que nunca fraqueja, ou seja, fizeram os homens felizes e uniram as tribos..

Platão negava decididamente que os demônios fossem uma fonte de mau, e representava Eros (o guardião das paixões sexuais) como um gênio ou demônio, não um deus, “nem mortal nem imortal”, “nem bom nem mau”. Mas todos os platonistas posteriores, incluindo os neoplatonistas que influíram poderosamente na filosofia cristã, sustentavam que havia alguns demônios bons e outros maus. O pêndulo ia de um lado a outro. Aristóteles, o famoso discípulo do Platão, considerou seriamente a ideia de que os sonhos estivessem escritos por demônios. Plutarco e Porfírio propunham que os demônios, vinham da Lua.

Os primeiros Pais da Igreja, apesar de serem em sua maioria  neoplatonistas, desejavam separar-se dos sistemas de crença “pagã”. Ensinavam que toda a religião pagã consistia na adoração de demônios e homens, ambos interpretados mal como deuses. Quando o apóstolo Paulo se queixava  da maldade nas alturas, não se referia à corrupção do governo a não ser aos demônios, que viviam ali:

“Porque nossa luta não é contra a carne e o sangue, a não ser contra os Principados, contra as Potestades, contra os Dominadores deste mundo tenebroso, contra os Espíritos do Mal que estão nas alturas”. (Efésios 6, 14)

Desde o começo se pretendeu que os demônios eram muito mais que uma mera metáfora poética do mal no coração dos homens. Os demônios sempre afligiram Santo Agostinho. O pensamento pagão prevalecente em sua época era o seguinte: “Os deuses ocupam as regiões mais altas, os homens as mais baixas, os demônios a do meio... Eles possuem a imortalidade do corpo, mas têm paixões da mente em comum com os homens.” No livro VIII da cidade de Deus (começado em 413), Agostinho assimila esta antiga tradição, substitui aos deuses por Deus e “demoniza” os demônios, declarando que são malignos sem exceção. Não têm virtudes que os redimam. São o manancial de todo o mal espiritual e material. Chama-os “animais etéreos... ansiosos de infligir o mal, completamente alheios à retidão, cheios de orgulho, pálidos de inveja, sutis no engano”.

Podem afirmar que levam mensagens entre Deus e o homem disfarçando-se como anjos do Senhor, mas sua atitude é uma armadilha para nos levar a nossa destruição. Podem assumir qualquer forma e sabem muitas coisas (”demônio” significa “conhecimento” em grego, embora em Latim, “Ciência” signifique “conhecimento), especialmente sobre o mundo material. Por inteligentes que sejam, sua caridade é deficiente. Atacam “as mentes cativas e burladas dos homens”, escreveu Tertuliano. “Moram no ar, têm às estrelas por vizinhas e comercializam com as nuvens.”

Apesar da evolução intelectual, social, política e filosófica, grande parte do caráter e inclusive o nome dos demônios se manteve inalterável desde o Hesíodo até as Cruzadas. Os demônios, os “poderes do ar”, descem dos céus e mantêm relação sexual ilícita com as mulheres. Agostinho acreditava que as bruxas eram fruto dessas uniões proibidas. Na Idade Média, como na antiguidade clássica, quase todo mundo acreditava nessas histórias. chamava-se também aos demônios diabos ou anjos caídos. Os demoníacos sedutores das mulheres recebiam o nome de íncubos; os dos homens, súcubos. 

Há alguns casos em que as freiras, com certa resistência, declaravam uma semelhança assombrosa entre o íncubo e o padre confessor, ou o bispo, e ao despertar na manhã seguinte, “encontravam-se sujas como se tivessem dormido com um homem”. Há relatos similares, mas não em conventos, e sim em haréns na antiga China.

Continua...

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